PUBLICADO EM: 12/01/2015

Rock in Rio: 11/1/1985

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Convidamos a jornalista Ana Maria Bahiana, que cobriu a primeira edição do festival, para reviver a experiência de ver nascer o Rock in Rio. Esse é seu 1º texto:

O sol saiu depois de dias de chuva, e encontrou a Cidade do Rock de verde e amarelo. Centenas, milhares de pessoas, vestindo camisetas verdes e amarelas, bonés verdes e amarelos, bandeirinhas, camisas da seleção…   Histórico, comovente e mais que um pouco irônico, considerando o quanto de aperto a música em geral – e o rock ali no bolo- tem passado nos últimos vinte anos: cá estamos todos nós, de verde e amarelo, celebrando nosso presidente civil, Tancredo Neves…. num show de rock!

Ney Matogrosso abriu a noite com uma chamada geral : “Deus salve a América do Sul!”. Com seu visual  índio-art deco,  de tanga, elaborado cocar a e uma queixada na mão, Ney era o homem de neanderthal para uma nova era,  à vontade num palco tão imenso que poderia facilmente engolir alguém de menor carisma. A galera no gargarejo pegou o embalo imediatamente, e um zum zum de vaia foi contido com uma poderosa “Pro Dia Nascer Feliz”, acalmando os ânimos roqueiros.

Erasmo Carlos não teve a mesma sorte: o set começou bem, mas rapidamente desabou debaixo de vaias maciças, acompanhadas de chuvas de copos de papel.  O Tremendão segurou a onda: encourado e tacheado no melhor estilo biker, ele propôs, por cima do coro de vaias – “Eu queria oferecer essa energia de todos nós a muitos dos nossos que já se foram, que estãoa qui conosco. Big Boy! Janis Joplin! Jimi Hendrix! John Lennon! E o rei do rock n roll, Elvis Presley!” A platéia enlouqueceu, aplaudindo todos os nomes e explodindo em festa com um medley Jovem Guarda em ritmo acelerado.

Pepeu & Baby pegaram a boa onda. Baby linda, super grávida, barrigão de fora entre paetês e miçangas, botou até os roqueiros mais empedernidos para requebrar ao som de “Brasileirinho”. Pepeu, no auge da forma como guitarrista que entende tanto o suíngue brasileiro quanto a pegada do rock, fechou o tempo. E deixou o povo no ponto para o peso total que veio a seguir…

Era isso que a galera estava esperando. “Rock in Rio, are you ready?”,  David Coverdale saudou a massa, antes de arrasar com uma versão pesada de “Walking in the Shadow of the Blues”. Pronto, agora a Cidade do Rock estava entregue. O Whitesnake comprovou sua força de raiz nos blues, com muita eletrecidade por cima, mais o vozeirão e a cabeleira de Coverdale, com todas aquelas presepadas que a galera adora.

Não deu nem para ouvir a voz de Winston Churchill no seu famoso discurso durante a Segunda Guerra Mundial (“lutaremos os campos, nas colinas, nas ruas, jamais nos renderemos”): a Cidade do Rock já estava ululando pelo Iron Maiden. E de “Aces High” a “Iron Maiden”, espichando por um merecido bis de três músicas, a platéia era deles.

Quando o Queen pisou no palco, tudo estava no lugar certo. Um showzaço com um visual sensacional de luz e cor, um repertório de todos os grandes sucessos, Freddie Mercury esbanjando carisma e recebendo de volta o maior coral que poderia desejar- a Cidade do Rock cantando com ele “Love of My Life”.

Belo começo para um evento que já é, ele mesmo, um belo começo.

Ana Maria Bahiana

Jornalista, autora, pesquisadora, produtora, Ana Maria Bahiana tem uma longa e prestigiosa  carreira no Brasil e no exterior, em imprensa, rádio, televisão e internet. Participou da cobertura do 1° Rock in Rio para o jornal O Globo.

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