A jornalista Ana Maria Bahiana, foi convidada pelo Rock in Rio a reviver a edição de 1985 do festival. Confira seu 2º texto para o blog:
Muito sol, muito calor, muita gente, muito verde e amarelo antecipando a eleição de Tancredo Neves esta semana. E muitos problemas de som para os primeiros a se apresentar no palco do Rock In Rio. Seria conspiração dos técnicos gringos, operando apenas para as grandes atrações interacionais? Os bastidores estavam fervendo de teorias de conspiração.
Mas os Paralamas do Sucesso, abertura da tarde de domingo, não vieram para ter medo nem de calor, nem de som instável, nem da barulheira dos helicópteros sobrevoando a Cidade do Rock em busca de ângulos épicos para captar o evento. Herbert, Bi e Barone arrasaram do começo ao fim. Ouso dizer que foi o melhor show de abertura destes primeiros três dias de Rock in Rio: pura energia, competência, alegria contagiante, repertório enxuto em cima dos dois LPs do trio. Explosão total com big hit “Óculos”, plateia inteira dentro, dançando, cantando junto. “Um tempo atrás um acontecimento como o Rock in Rio era impensável. Hoje nós estamos aqui e eu quero dizer que isto só foi possível graças aos novos grupos brasileiros que surgiram nos últimos anos”, Herbert disse, do alto do palco, no meio do show. E estava certo.
Apoiado no sucesso e no ótimo repertório de seus LPs Tempos Modernos, Ritmo do Momento e Tudo Azul, Lulu Santos fez um show empolgante, divertido, com o povo da Cidade do Rock cantando “Tempos Modernos”, “O Último Romântico”, “Como Uma Onda”. Tão rock, tão carioca.
A onda carioca continuou com a Blitz, cheia de energia, arrebatando a plateia com “Weekend”, “Ridícula”, “A Dois Passos do Paraíso”. O clima de festa chegou ao auge com o grande sucesso da banda, “Você Não Soube Me Amar”, cantado em uníssono com Evandro Mesquita, Fernanda Abreu e Márcia Bulcão.
O código musical de comunicação entre humanos e ETs de Contatos Imediatos de Terceiro Grau anunciou a chegada de Nina Hagen. Perfeito: foi mesmo uma extra-terrestre que baixou no palco, cabeleira rosa pink, brandindo uma cruz e cantando a “Habanera”, ária da ópera Carmen. A doideira performática continuou, incluindo “Spirit in Sky”, hit menor dos anos 60, a punkíssima “White Punks on Dope” e alguns cacarejos ali pelo meio.
A plateia ainda estava meio em choque quando o extremo oposto de Nina Hagen entrou no palco : as saltitantes Go-Go’s. O pop era leve e alegrinho, o pessoal reagiu bem ao sucesso “My Lips Are Sealed” mas não passou disso.
A noite, no final, ficou com um velho conhecido da imprensa carioca: Rod Stewart. E Rod ganhou o dia. Nem a chuva, que começou a cair assim que ele deu a partida em “Hot Legs”, conseguiu tirar o show dos trilhos. Tudo perfeito, tudo certo – Rod é o popstar do momento. E sabe disso : anunciou um de seus primeiros sucessos, dos seus tempos com os Faces, “Maggie May”, como “uma canção da época em que eu era um garoto qualquer”. Pela aclamação da Cidade do Rock, não é mais mesmo.
Ana Maria Bahiana
Jornalista, autora, pesquisadora, produtora, Ana Maria Bahiana tem uma longa e prestigiosa carreira no Brasil e no exterior, em imprensa, rádio, televisão e internet. Participou da cobertura do 1° Rock in Rio para o jornal O Globo.