Convidamos a jornalista Ana Maria Bahiana, que cobriu a primeira edição do festival, para reviver a experiência do Rock in Rio 1985. Esse é seu 3º texto:
Este dia provavelmente vai ser lembrado como o momento em que James Taylor virou brasileiro. Sábado ele já havia seduzido o público e acalmado os ânimos depois da abertura do festival (quando as tribos metaleirias e não metaleiras se chocaram). Hoje ele levou todo mundo para casa : quando o rockódromo inteiro cantou “You’ve Got a Friend” estava selada de vez a ligação com o mais suave de todos os artistos do Rock In Rio.
No geral, o dia todo foi sereno. Seria a ressaca do fim de semana de abertura? O calor abafado? A trégua entre as tribos? Talvez tudo isso ao mesmo tempo. A programação sugeria mesmo um clima mais ameno, metade suingue brasileiro, metade soft pop. Ou seja: quem veio aqui não trajava couro com tachas e não estava mesmo a fim de pauleira.
Moraes Moreira abriu a tarde em clima de carnaval – que, como lembrou Nelson Motta em uma de suas intervenções, “é a coisa mais parecida com rock”. O pot pourri de frevos, puxado por “Coisa Acesa” e “Vassourinha Elétrica” trouxe o Trio Elétrico para a Cidade do Rock , comprovando a teoria de Nelsinho.
Alceu Valença pegou a onda e levou adiante. Seguro, carismático, postura de rockstar e som de Luiz Gonzaga com muita eletricidade, Alceu não teve a menor dificuldade em se comunicar com a plateia. “Morena Tropicana” pos todo mundo no xote, com coreografia coordenada de braços. “Anunciação” tocou na emoção – “tu vens, tu vens, eu já conheço teus sinais” lembrou ao povo da Cidade do Rock que amanhã nosso presidente civil, Tancredo Neves, toma posse.
Como já tinha feito no sábado, quando foi atração proncipal, George Benson mandou bem seu som pop/funk/jazz light. O big hit, é claro, foi “On Broadway”, com todo mundo cantando junto o refrão.
E aí… James Taylor. Quem poderia imaginar que o quarentão, vindo do movimento country-folk dos anos 70, ia se conectar tão facilmente com o público brasileiro, especialmente em um evento como este, pontuado por monstros do metal? A ligação é instantânea: James Taylor entrou no palco debaixo de aplausos e acenos e imediatamente ganhou um coral de dezenas de milhares de vozes para acompanha-lo em “Wichita Lineman”, “Carolina In My Mind” e “So Far Away”. Tenho a impressão que esse caso vai longe…
Ana Maria Bahiana
Jornalista, autora, pesquisadora, produtora, Ana Maria Bahiana tem uma longa e prestigiosa carreira no Brasil e no exterior, em imprensa, rádio, televisão e internet. Participou da cobertura do 1° Rock in Rio para o jornal O Globo.