O jornalista Jamari França, que cobriu o festival de 85 para o Jornal do Brasil, foi convidado pelo Rock in Rio a reviver a primeira edição do festival. Confira como foi o dia 15 de janeiro de 1985:
O quinto dia do Rock in Rio levou 300 mil pessoas à Cidade do Rock para uma jornada histórica com um viés politico pela escolha de Tancredo Neves como o primeiro presidente civil desde 1964. Mas a noite foi do guitarrista Angus Young, que comandou a banda australiana AC DC em 1h45m de um show devastador. Apresentaram-se ainda Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Eduardo Dusek, Barão Vermelho e os alemães do Scorpions.
Uma multidão alegre e festeira aguentou firme a maratona até alta madrugada. A nota destoante foi uma brigada metaleira que vaiou Kid Abelha e Dusek. O apresentador Kadu Moliterno apresentou o Kid como “o primeiro show da democracia brasileira”. A banda desfilou sucessos como Porque Não Eu, Como Eu Quero, Pintura Íntima e Nada Tanto Assim.
Lá se foi o Kid e entrou Eduardo Dusek. A Turma do Coisa Ruim redobrou as vaias e Dusek penou para fazer um show que foi do pop a marchinhas carnavalescas, até que perdeu a paciência e deixou o palco com um palavrão. O punch do Baräo Vermelho calou os dissidentes e a banda apresentou os sucessos Maior Abandonado, Bete Balanço, Pro Dia Nascer Feliz e duas inéditas, Mal Nenhum e Um Dia na Vida, entre outras. “Que o dia nasça lindo pra todo mundo amanhã, um Brasil novo com uma rapaziada esperta,” despediu-se Cazuza.
“Rio, você está comigo esta noite?” A saudação do vocalista dos Scorpions, Klaus Meine, teve uma resposta ruidosa da plateia, que vibrou ao longo dos 80 minutos de show. Os grandes momentos foram os sucessos Still Loving You, Rock You Like a Hurricane e The Zoo. Em Can’t Live Without You, canção dedicada aos fãs, Klaus regeu a multidão no groove, sustentado pela bateria de Herman Rarebell. Este teve seu momento solo, espancando os tambores com o kit suspenso a três metros de altura.
Uma hora de espera e o grande momento. Luzes apagadas, uma guitarra agressiva grita, o povo delira e Angus, de uniforme colegial e Gibson SG em punho, desencadeia um show apoteótico de 105 minutos e 17 músicas, com mil aprontações desse baixinho movido a energia nuclear. Em Bad Boy Boogie, o esperado striptease com a exposição rápida do traseiro branco. Sempre com solos criativos e impactantes, Angus incita a massa que repete as notas arrancadas da guitarra. Ele chega a deitar no chão, girar e espernear sem parar de solar um só momento.
O vocalista Brian Johnson tocou as notas de abertura de Hell’s Bells no imenso sino de bronze e dois canhões da época da Guerra de Secessão dispararam salvas em For Those About to Rock (We Salute You], fechando a noite.
Jamari França
Jamari França cobriu os Rock in Rio de 1985, 1991 e 2001 para o Jornal do Brasil e o de 2011 para seu blog Jam Sessions. Trabalhou no JB de 1978 a 2001 e no Globo Online de 2001 a 2009. É autor da biografia Vamo Bate Lata dos Paralamas do Sucesso, produtor e apresentador do programa Jam Sessions na RadioCultFM.com e tem uma coluna no jornal AcheiUSA da Flórida. Traduziu livros de música e política internacional para várias editoras.