PUBLICADO EM: 16/01/2015

Rock in Rio 17/1/1985

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O jornalista Jamari França, que cobriu o festival de 85 para o Jornal do Brasil, revive a primeira edição do festival. Confira como foi o dia 17 de janeiro de 1985:

As águas de janeiro desabaram sobre a Cidade do Rock no sétimo dia do Rock In Rio. A comparação com Woodstock foi inevitável, afinal para os brasileiros o nosso é tão histórico quanto o americano. Os jovens se divertiram na lama e caíram na folia com as duas atrações brasileiras da noite, representantes do Nordeste com linhas musicais distintas, Alceu Valença e Elba Ramalho. As estrangeiras foram o elegante jazz de tinturas fusion de Al Jarreau e o papa do rock progressivo, o Yes.

Foi um dia de pouco público, 70 mil pessoas, e apenas cinco mil delas tinham chegado quando Alceu Valença entrou em cena, apelando ao clichê “Poucos, mas sinceros.” E tome chuva. O repertório de Alceu mistura ritmos do Nordeste com rock, este na guitarra de pegada certeira de Paulo Rafael. Daí foi só sair mandando Morena Tropicana, Pelas Ruas Que Andei, Cambalhotas e outras, além de repentes em homenagem à renascente democracia e um apelo para a chuva parar, ignorado por São Pedro.

Dado o recado, entra Elba Ramalho e bota o povo pra pular na lama e dançar frevo usando os guarda-chuvas até a apoteose da oportuna e carnavalesca Chuva Suor e Cerveja, de Caetano Veloso. A música de Al Jarreau, puxada ao jazz e mais sofisticada, não apelou a parte do público, que dispersou para os shoppings, lanchonetes e para se lavar no chafariz. Quem ficou viu um belo show com muito suingue de uma voz privilegiada que domina como poucos a técnica do scat, os vocalises que levaram críticos a dizer que ele tem uma orquestra na garganta. Assim foi em Your Song, Spain, Trouble in Paradise, entre várias.

Finalmente o Yes, tão esperado pelos fãs do progressivo, mas esse não é o Yes clássico, o guitarrista Trevor Rabin não tem o mesmo refinamento de Steve Howe. Ele levou a banda para uma direção de pop rock, como mostra o hit do momento, Owner of a Lonely Heart. Pantominas de Trevor à parte, lá estavam a voz soprano de Jon Anderson com uma camiseta “Rio Brasil”, os teclados de Tony Kaye, a bateria de Alan White, sucessor de Bill Bruford, e o poderoso baixo de Chris Squire, que tremia as paredes da sala de imprensa no extremo oposto do palco. Das antigas tocaram I’ve Seen All Good People, Yours Is No Disgrace e Roundabout, além das recentes Changes, Cinema, Hearts e Hold On. Foi uma sonzeira pra ninguém botar defeito. Encerramento grandioso para uma noite em que a música falou mais alto do que o mau tempo.

Jamari França

Jamari França cobriu os Rock in Rio de 1985, 1991 e 2001 para o Jornal do Brasil e o de 2011 para seu blog Jam Sessions. Trabalhou no JB de 1978 a 2001 e no Globo Online de 2001 a 2009. É autor da biografia Vamo Bate Lata dos Paralamas do Sucesso, produtor e apresentador do programa Jam Sessions na RadioCultFM.com e tem uma coluna no jornal AcheiUSA da Flórida. Traduziu livros de música e política internacional para várias editoras.

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