Jamari França, jornalista que cobriu o festival de 85 para o Jornal do Brasil, revive a primeira edição do festival. Confira como foi o dia 19 de janeiro de 1985:
Quatro atrações pesadas levaram 380 mil pessoas ao penúltimo dia do Rock in Rio – o hard rock de Whitesnake e AC DC, o heavy metal dos Scorpions e o papa do metal satânico Ozzy Osbourne. Os brasileiros Baby Consuelo e Pepeu Gomes enfrentaram o radicalismo dos headbangers e o show de Erasmo Carlos foi poupado da agressividade que o atingiu no dia 11. Seu show ficou para amanhã, encerramento do histórico festival.
Os metaleiros vieram a caráter, mas a segurança apreendeu facas, pulseiras com tachas pontiagudas e até uma caveira. Pepeu e Baby, com visual colorido e canções pop, eram fortes candidatos a vaias, mas Pepeu mostrou seu lado guitar hero nas instrumentais Malacaxeta e Blue Wind (Jeff Beck], para depois cantar o hit Masculino Feminino e breguices similares. Sua grávida mulher, Baby Consuelo, se impôs aos gritos de RA do guru Thomaz Green Morton, e levou seus Meninos do Rio em relativa tranquilidade.
O Whitesnake do ex-Deep Purple David Coverdale prometeu muito barulho e cumpriu, principalmente pela guitarra virtuosa de John Sykes e os trovões da bateria de Cozy Powell. Uma hora corrida de show com quatro canções do álbum Slide It In, incluindo o hit Love Ain’t No Stranger e um show solo de Sykes no blues Cryin’ in the Rain. Intervalo e, de repente, escuridão e Oh Fortuna, da ópera Carmina Burana, de Carl Orff, anuncia Sua Majestade Satânica, Ozzy Osbourne, a endoidar a multidão com gritos de “Smoke some more weed”, “Go fucking Crazy” e “Is Everybody High?” Ele parecia estar tudo isso e detonou 63 minutos da carreira solo, incluindo Mr. Crowley, I Don’t Know, Journey to the Centre of Eternity e outras. Ozzy tem fama de comedor de morcego, uma vez mordeu um de verdade num show. De repente materializou-se no palco uma galinha branca, Ozzy olhou incrédulo, um roadie a tirou de cena, a bicha voltou e Ozzy a levou ilesa para o backstage. O show terminou com duas do Black Sabbath, sua ex-banda, Iron Man e Paranoid, com Crazy Train entre elas.
Os alemães do Scorpions se garantiram em sucessos como Still Loving You, At The Zoo e Rock You Like a Hurricane. Muitos solos de guitarra, porradaria solo de Herman Rarebell na bateria e muita incitação da massa pelo vocalista Klaus Meine. Finalmente o headliner, AC DC, com o melhor guitarrista da noite, Angus Young. O show foi menor que o do dia 15, 14 músicas em vez de 17, mas a performance teve o mesmo vigor, com solos ensandecidos, strip-tease, o enorme sino de Hell’s Bells e os canhões de For Those About to Rock (We Salute You). Uma despedida estrondosa da histórica noite do rock pesado no festival.
Jamari França
Jamari França cobriu os Rock in Rio de 1985, 1991 e 2001 para o Jornal do Brasil e o de 2011 para seu blog Jam Sessions. Trabalhou no JB de 1978 a 2001 e no Globo Online de 2001 a 2009. É autor da biografia Vamo Bate Lata dos Paralamas do Sucesso, produtor e apresentador do programa Jam Sessions na RadioCultFM.com e tem uma coluna no jornal AcheiUSA da Flórida. Traduziu livros de música e política internacional para várias editoras.